O Naturismo foi um dos movimentos percursores da ecologia. Os primeiros a envolverem-se neste tema não deverão por isso calar-se perante a confusão que se desenvolve cada vez mais em seu redor. É certo que este tema da ecologia agora repetido por outros não é novidade para nós naturistas, mas o grande debate da sociedade sobre o meio ambiente está definitivamente na ordem do dia e torna-se obrigatório.
A protecção do meio ambiente deverá ser preferida à protecção da Natureza e
poderá qualquer delas existir sem uma
ecologia humana integral?
Todo o mundo necessita de espaço, de liberdade, de ar puro, de áreas
florestais e campos de flores. Mas eles são bens raros e não se vendem como
bens alimentares em qualquer supermercado.
O Homem não está preparado para renunciar ao progresso do conforto e das
“vantagens” técnicas do mundo moderno. Mas ele não poderá caucionar todos os
excessos.
Em particular assistimos ao desenvolvimento da mecanização exarcebada que
nos conduz a uma civilização robotizada que se voltará irremediavelmente contra
o ser humano.
A Natureza está ameaçada de extinção e a humanidade vai realizando pouco a
pouco que ela é, em si mesma, uma espécie natural.
Desde já, e antes de mais, é preciso afirmar – A Natureza é o meio vital
que produz o Homem e é também o meio que lhe permite perpetuar-se.
É verdade que procuramos uma natureza “corrigida” e protectora e não uma
natureza selvagem de catástrofes e cataclismos. O Homem procurou proteger-se
dos ciclones, tempestades, inundações devastadoras, tremores de terra, subidas de marés, etc..
É à natureza “controlada” e “corrigida” que nós chamamos meio ambiente e é
assim que hoje muitas praias têm areia “arranjada” pelo homem e não pelo efeito
das marés.
Mas a principal ameaça não está tanto na construção de uma natureza
“corrigida” e na mecanização, por mais sofisticada que seja, mas antes, na
procura exarcebada da rentabilidade máxima causada pelos princípios económicos
que regem a sociedade. Mais do que a tecnologia é o dinheiro, o lucro e o
enriquecimento rápido a causa de todas as catástrofes.
Pensemos por exemplo em todos os loteamentos industriais em zonas
inundáveis, a destruição de florestas para dar lugar a uma agricultura de
exploração intensiva, etc.
Depois de ter reagido contra os excessos industriais, a ecologia
direcciona-se actualmente para realizações de “luxo”. Reintroduzir ursos,
lobos, linces, não se faz sem consequências sobre a criação de ovelhas, a
transumância e a vida em altitude. Igualmente, no aumento dos parques naturais,
é necessário recompôr a fauna com população autóctone que não pode ser caçada.
Face à protecção do meio ambiente, alguns opõem a defesa da Natureza. Mas
se a Natureza, no seu sentido restrito, é aquela que não foi modificada pelo
Homem, será bom reconhecer que raros são os locais naturais existentes na
generalidade dos países desenvolvidos agro-industrialmente.
A Natureza é agora praticamente toda ela “arranjada”. O campo está
transfomado numa estepe agro-industrial em vias de urbanização.
Não é suficiente instaurar uma fiscalização “verde” para evitar ao
contribuinte ter de escolher pagar a nova política de limpeza selectiva.
Contudo, não será fácil aos peixes conseguirem ver-se livres dos dejectos
radioactivos, do mercúrio, dos ácidos das baterias e pilhas, dos óleos usados,
dos nitratos, das dioxinas...
A noção fundamental em todos os processos naturais é o equilíbrio. Para o
Homem trata-se de poder compensar os excessos a par e passo. Para as forças em
presença o equilíbrio é sobretudo um jogo de oposição dos contrários. Nas lutas
correntes o Homem procura fazer de árbitro mas, cada vez mais, o equilíbrio
deverá ser avivado, dinâmico e não entendido de forma estática, impondo-se no
tempo por forma a não deixar hipotecar o futuro.
As gerações vindouras têm direitos que devemos respeitar. Os nossos filhos
devem herdar um planeta vivo e viável. Não devemos fazer a qualquer preço e de
qualquer maneira o que quer que seja com
os bancos de ADN, a clonagem animal e humana, as criações trangénicas, etc..
Não temos o direito de brincar com a vida sem ter em conta os efeitos a longo
prazo. É tempo de compreender enfim que os problemas (e as soluções) não são
locais e nacionais mas antes internacionais e planetárias.
Os buracos na camada de ozono não pertencem apenas a um país. Num século, a
nossa população duplicou e passámos de 3 a 6 biliões de seres humanos, logo a
superpopulação deverá ser dominada.
Não há ecologia válida se não tiver em
consideração o Naturismo. Ele não pode ser considerado um simples meio de
evasão, uma ilha fora da sociedade humana. O projecto naturista é
universalista.
Finalmente começa a considerar-se a Terra
como um organismo vivo que se defende mantendo as invariáveis – constantes de
CO2, de Metano, da temperatura, etc.. A finalidade deste organismo planetário
será de perpetuar a vida por autorregulação. O Homem faz parte dos processos
naturais e por isso deve entender a ecologia humana.
Ousar viver nu é ousar viver livre. O Naturismo propõe uma arte de viver
tecendo novos ganhos humanos fundados na sinceridade e na confiança. Ele
constitui uma das esperanças do Século XXI enquanto movimento de futuro. O
Naturismo esteve sempre avançado no seu tempo, e assim deverá continuar
promovendo as suas ideias. O Naturismo introduz a força explosiva da Natureza
para transformar de vez o Homem e a Sociedade.
Para ser Naturista vive Natural!
Marc-Alain Descamps
Sociólogo, Naturista, membro da Direcção da Federação Francesa de Naturismo
– FFN
(Tradução e adaptação de Laurindo Correia)
FONTE: http://naturismo.paginas.sapo.pt/index.html